Monte Sinai

 
O Yom Kipur

 

 

PARA o JUDEU:

Após o pecado do bezerro de ouro, Moshê (Moisés) rezou e, no dia dez do mês hebraico de Tishrei, D'us concedeu pleno perdão ao povo judeu.

Yom Kipur é o Dia da Expiação, sobre o qual declara a Torá: "No décimo dia do sétimo mês afligirás tua alma e não trabalharás, pois neste dia, a expiação será feita para te purificar; perante D'us serás purificado de todos teus pecados."

Esclarecendo a natureza de Yom Kipur, o Rambam escreve: "É o dia de arrependimento para todos, para o indivíduo e para a comunidade; é o tempo do perdão para Israel. Por isso todos são obrigados a se arrepender e a confessar os erros em Yom Kipur."

A expiação obtida através de Yom Kipur é muito mais elevada que aquela conseguida através do arrependimento, pois neste dia os judeus e D'us são apenas um. O judeu une-se com D'us para revelar um vínculo intocável pelo pecado, sem obstáculos.

Teshuvá, o retorno do judeu ao bom caminho, não está restrito apenas a Yom Kipur. Há muitas outras épocas que são propícias para que isto ocorra, e na verdade, um judeu pode, e deve, ficar em estado de reflexão, alerta e arrependimento todos os dias do ano.

A obtenção do perdão

Os Rabis afirmam que a pessoa deve primeiro arrepender-se, e então obterá a expiação especial de Yom Kipur (que é infinitamente mais elevada que aquela conseguida apenas pela teshuvá).

Mas como Yom Kipur consegue isto? A expiação não é meramente a remissão da punição pelo pecado; significa também que a alma de um judeu é purificada das máculas causadas pelo pecado. Além disso, não apenas nenhuma impressão das transgressões permanece, como as transgressões são transformadas em méritos.

Que isto possa ser atingido através de teshuvá é compreensível; um judeu sente genuíno remorso pelas falhas cometidas erradicando o prazer que extraiu dos pecados.

Sua alma é então purificada. O próprio pecado deve ser visualizado como uma contribuição ao processo de teshuvá.

Uma transgressão separa a pessoa de D'us. O sentimento de ser afastado de D'us age como um lembrete para o retorno, para estabelecer um vínculo mais intenso com o Criador.
O que é a expiação obtida através de Yom Kipur? Se a expiação significa apenas a remissão da punição, seria compreensível que "o próprio dia" pudesse abolir a punição que de outra forma seria devida pelos pecados de alguém através do ano.

Mas a expiação, como dizemos, significa também a purificação das manchas da alma. Como pode "o próprio dia," sem a força transformadora de teshuvá, atingir este ponto?

Três níveis no vínculo de um judeu com D'us

O pecado afeta o vínculo de um judeu com D'us, e há três diferentes níveis neste vínculo:

1 – O relacionamento estabelecido por um judeu através do cumprimento das mitsvot: a aceitação do jugo celestial por parte do judeu e sua prontidão em seguir as diretivas de D'us estabelecem um vínculo entre ele próprio e D'us.

2 – Uma conexão íntima, mais profunda que a primeira. Como este vínculo transcende aquele forjado pela aquiescência com a vontade de D'us, permanece válido mesmo quando alguém transgride aquela vontade e por causa disso prejudica o primeiro nível do relacionamento, que a teshuvá tem o poder de purificar as manchas na alma, causadas pelo pecado – o que enfraqueceu o nível inferior da conexão.

3 – O vínculo unindo a essência de um judeu com a Essência de D'us. Isto não é restrito a nenhum vínculo, e transcende toda a expressão humana. Ao contrário dos dois anteriores, este relacionamento não pode ser produzido pelo serviço do homem a D'us, mesmo o serviço de teshuvá, pois as ações do homem, não importa quão elevadas, são inerentemente limitadas. Pelo contrário, este é um vínculo intrínseco à alma judaica, que é "uma parte do D'us acima" – e neste nível, o judeu e D'us são completamente um só.

Como este vínculo transcende todos os limites, não pode ser afetado pelas ações do homem. Assim como não pode ser produzido pelo serviço do homem a D'us, da mesma forma não pode ser prejudicado pela omissão do serviço ou através do pecado. Pecados e máculas não podem tocar este nível.

A unidade entre o judeu e D'us

Em Yom Kipur, este vínculo entre a essência de um judeu e a Essência de D'us revela-se em cada judeu – e por isso todas as manchas em sua alma causadas pelos pecados são automaticamente removidas.

Esta é a diferença entre a expiação de Yom Kipur e aquela de qualquer outra época. Na última, o pecado causa manchas na alma, e por isso a pessoa deve trabalhar ativamente para conseguir a expiação – arrependendo-se, o que produz um relacionamento mais profundo entre o homem e D'us. A maior expiação de Yom Kipur, entretanto, vem com a revelação de um vínculo tão elevado que, em primeiro lugar, nenhuma mancha pode ocorrer.

Este conceito é expresso no serviço de Yom Kipur do Cohen gadol, o Sumo Sacerdote, que representava todo o judaísmo. Um dos momentos mais importantes daquele serviço era sua entrada no Santo dos Santos, sobre o qual a Torá diz: "Nenhum homem deve estar no Ohel Moed quando ele entra para fazer expiação." O Talmud comenta que isto se refere até mesmo aos anjos. Ninguém, homem ou anjo, poderia ficar no Santo dos Santos naquela hora, pois o serviço de Yom Kipur é a revelação da unidade essencial entre os judeus e seu Criador. Apenas o judeu e D'us estão lá – sozinhos.

Revelação da essência do judeu

Tal revelação é possível não apenas no Templo Sagrado, através do Cohen Gadol, mas para todo judeu em suas preces de Yom Kipur. Este é o único dia do ano que tem cinco serviços de prece, correspondendo aos cinco níveis da alma.

Na última prece do serviço, Ne'ilah, o quinto e mais elevado nível da alma é revelado, um nível que é a quintessência da alma. "Ne'ilah" significa "trancar", indicando que naquela hora os judeus estão trancados sozinhos com D'us. A essência de um judeu é mesclada e unida à essência de D'us.

Yom Kipur, então, é um dia no qual não existem fatores externos, quando apenas a essência do judeu espalha seu brilho.

Teshuvá pode erradicar o pecado e as manchas na alma; Yom Kipur transcende inteiramente o conceito de pecado e arrependimento – e por isso traz uma expiação mais elevada que em qualquer outra época.

 

O Yom Kipur no Templo:

Sete dias antes do Dia da Expiação, o Sumo Sacerdote era levado de sua casa e colocado na Câmara dos Conselheiros, e outro sacerdote ficava de sobreaviso para assumir seu lugar, no caso de acontecer-lhe algo que o tornasse impróprio para o Serviço.

Era deixado aos cuidados dos anciãos do Bet Din, Tribunal Rabínico, que liam perante ele a ordem do dia (para torná-lo bem versado no Serviço). Diziam-lhe eles: "Meu Senhor Sumo Sacerdote, recite com sua própria boca, para que não seja esquecido, ou se nunca o aprendeu."

Na véspera do Dia de Expiação pela manhã, eles o faziam ficar de pé no Portão Ocidental, e passavam por ele bois, carneiros e ovelhas, para que adquirisse conhecimento e se tornasse versado no Serviço.

Durante todos os sete dias não lhe eram negados água e alimento; mas na véspera do Dia de Expiação, quando anoitece, não lhe permitiam comer bastante, pois a comida induz ao sono. Os anciãos da Corte o entregavam aos anciãos do Sacerdócio, e estes o levavam à Casa de Abtinas (no pavimento superior do Bet Hamicdash, Templo Sagrado, no lado sul da "Corte dos Sacerdotes").

Faziam-no jurar de que realizaria o Serviço de acordo com a tradição, e antes de deixá-lo, diziam sobre ele: "Meu Senhor Sumo Sacerdote, somos representantes da Corte, e o senhor é nosso representante. Nós lhe suplicamos por Ele, que fez Seu nome habitar nesta Casa, para que não altere nada daquilo que lhe dissemos." Ele voltava-se de lado e chorava, e eles voltavam-se de lado e choravam (pois uma suspeita fora lançada sobre ele).

Se ele fosse um Sábio, costumava explicar as Escrituras, e caso não fosse, os Sábios costumavam explicá-la perante ele. Se era versado na leitura das Escrituras, lia, e se não o fosse, eles liam perante ele (para distrair-lhe a mente e impedi-lo de dormir). E que parte liam perante ele? Iyov, Ezra e Divrê-Hayamim.

Todos os sacerdotes e o povo que ficava de pé na Corte, ao ouvirem o Nome glorioso, inefável e inspirador pronunciado pelo Sumo Sacerdote com santidade e pureza, ajoelhavam-se e prostravam-se sobre suas faces, dizendo: "Bendito seja o Nome de Sua gloriosa Majestade para todo o sempre."

Zecharia ben Kebutal disse: "Muitas vezes eu li perante ele, do livro de Daniel." Se ele estivesse com aparência sonolenta, jovens membros do sacerdócio ergueriam o dedo médio perante ele e lhe diziam: "Meu Senhor Sumo Sacerdote, levante-se e afaste o sono de uma vez caminhando sobre o chão frio." E costumavam distraí-lo até que a hora do sacrifício se aproximasse. Fazia-se um sorteio para dividir os serviços sagrados entre os sacerdotes.

O oficial encarregado dizia-lhe: "Vá e veja se chegou a hora do sacrifício. Se tivesse chegado, aquele que a vira proclamava: "Barkai!" (O dia amanheceu!).

O Sumo Sacerdote era levado ao local de imersão. Neste dia o Sumo Sacerdote imergia cinco vezes, e dez vezes ele purificava suas mãos e pés. Eles esticavam um lençol de linho entre ele e o povo. Ele despia as roupas, descia e mergulhava, saía e secava-se. Traziam-lhe vestes de ouro e ele as vestia, e santificava suas mãos e pés. Traziam a ele o Tamid, Oferenda Diária Completa. Ele fazia a incisão e outro completava a oferenda em seu nome. Ele ia para o interior para queimar o incenso matinal e para cuidar das lamparinas.

Traziam-no à câmara dentro da Corte do Templo Sagrado. Esticavam um lençol de linho entre ele e o povo. Ele santificava suas mãos e pés e despia as roupas. Descia e mergulhava, saía e secava-se. Traziam-lhe vestes brancas; ele as envergava e santificava suas mãos e pés. Pela manhã, era vestido em linho, e na parte da tarde em linho indiano. Isto era pago com fundos públicos, e se ele desejasse gastar mais, podia fazê-lo às suas próprias custas.

Aproximava-se de seu novilho, que estava de pé entre o Salão e o Altar, a cabeça para o lado sul e a face voltada para oeste. E o Sumo Sacerdote ficava a leste com a face voltada para oeste; e colocava as mãos sobre ele e fazia uma confissão. Ele costumava dizer: "Ó D'us, cometi iniqüidade, transgredi e pequei perante Ti, eu e minha casa. Ó D'us, perdoa as iniqüidades e transgressões e pecados que cometi e transgredi perante Ti, eu e minha casa, como está escrito na Torá de Teu servo Moshê: 'Pois neste dia a expiação deve ser feita para te purificar; de todos teus pecados perante D'us deves ser limpo'".

Todos os sacerdotes e o povo que ficava de pé na Corte, ao ouvirem o Nome glorioso, inefável e inspirador pronunciado pelo Sumo Sacerdote com santidade e pureza, ajoelhavam-se e prostravam-se sobre suas faces, dizendo: "Bendito seja o Nome de Sua gloriosa Majestade para todo o sempre."

Após terminar o serviço do dia, traziam-lhe suas próprias roupas e o acompanhavam até sua casa. Ele então reunia todos seus amigos para celebrar sua saída do Santuário sem nenhum problema.

O Machzor, livro de rezas de Rosh Hashaná e Yom Kipur, descreve:

"Como era glorioso o Sumo Sacerdote, quando deixa a salvo o Santuário...
Semelhante à abóbada expandida do céu, era o semblante do Sacerdote...
Como a aparência do arco-íris no meio de uma nuvem...
Como a rosa em meio a um maravilhoso jardim...
Como a ternura que paira sobre a face de um noivo...
Como os sinos de ouro nas franjas do manto...
Como o aspecto do sol nascente sobre a terra...
Feliz o olho que viu todas estas coisas.

A HISTÓRIA DE YOM KIPUR

“Ao Eterno, nosso D’us, pertence a misericórdia e o perdão...”
(Daniel 9:9)

Uma história verdadeira: quando Moisés subiu ao Monte Sinai, encontrou-se com o Santo, Bendito Seja, que escrevia em Sua Torá Sagrada: “...o Eterno, o Eterno, tarda em irar-se …” Moisés, então, completou: “...com os justos”. Mas lhe respondeu o Todo-Poderoso: “...também com os iníquos”, ao que Moisés retruca: “Senhor do Universo, deixa perecer os iníquos”. E o Santo, Bendito Seja, fez uma promessa a Moisés: “Juro, por tua vida, que há de chegar o dia em que implorarás por Meu perdão, até mesmo para os perversos”.

Moshé Rabeinu, nosso Mestre Moisés, foi um homem muito completo e espiritual, o que não o impediu, no entanto, de ser também o ser humano mais humilde jamais visto. A Torá, criada e escrita por D’us, mas trazida à Terra por ele, leva seu nome: Torat Moshê, a Torá de Moisés. Primeiríssimo dentre os profetas de D’us, escolhido para pastor de Seu Povo, Moisés liderou a libertação dos judeus do jugo egípcio. Cinqüenta dias após o Êxodo, no 6º; dia do mês de Sivan do calendário hebraico, D’us revelou-Se a todo o povo judeu, fazendo a proclamação dos Dez Mandamentos. No dia seguinte, Moisés subiu ao Monte Sinai para receber as Tábuas com os Mandamentos e para aprender o conteúdo da Torá. Informou ao povo que lá ficaria por 40 dias, retornando na manhã do quadragésimo dia. Supondo que o dia de sua subida contaria como o primeiro dos quarenta dias, o povo esperava que Moisés retornasse no 16º dia do mês de Tamuz. Mas Moisés lhes dissera que estaria ausente durante 40 dias e 40 noites. Isto significava que ele só estaria de volta no dia 17 de Tamuz.

Explicam nossos sábios que após vivenciar a Revelação Divina no 6º dia de Sivan, o povo judeu tinha alcançado o zênite espiritual. Quando Moisés descesse do Monte Sinai portando as Tábuas da Lei, o objetivo da Criação estaria realizado e não mais haveria morte ou maldade no mundo. Ter-se-ia iniciado a era messiânica. Mas Satã, o anjo da morte que tem por missão tentar os homens com o pecado, lutaria com todas as suas forças malignas, até o final, para evitar que tal momento se concretizasse.

O sol nasceu e se pôs no dia 16 de Tamuz e Moisés não retornou. A apreensão tomou conta do povo. O que teria sucedido ao homem que os conduzira da escravidão para a liberdade? Estaria morto? O pânico apossou-se deles. O erro no cálculo, ainda que por um único dia, levou-os ao desespero e a trágicas conse-qüências. O Midrash revela que Satã, aproveitando-se da oportunidade, criou a ilusão de escuridão e tumulto e mostrou ao povo a imagem de Moisés já morto, sendo carregado nos Céus.

Em sua fuga do Egito, o povo judeu foi seguido pelos Eirev Rav – egípcios que, tendo aceito a liderança de Moisés, abandonaram sua terra durante o Êxodo. Cerca de três mil deles se aproximaram de Aarão – irmão de Moisés e o primeiro Cohen Gadol, Sumo Sacerdote – exigindo um ídolo para substituir o líder judeu: “Faze-nos deuses que sigam à nossa frente, pois quanto a este Moisés, o homem que nos tirou do Egito – não sabemos o que lhe terá sucedido” (Êxodo 32:1).

Aarão percebe que os Eirev Rav estavam instigando o povo judeu a cometer um erro deplorável. Mas temia que fosse morto, caso resistisse; um homem chamado Hur, um dos líderes judeus, recusara-se a fazer o tal ídolo e o tinham assassinado. Aarão, que sempre preferira a morte sobre a idolatria, percebeu que caso morresse, assim extemporaneamente, seria uma catástrofe para seu povo. E, por outro lado, esperava o pronto retorno de seu irmão. Buscando ganhar tempo, pede que lhe tragam muito ouro, certo de que o povo se negaria a abrir mão de sua riqueza. Mas o povo responde, de imediato, a seu pedido. Tiraram “das orelhas as argolas de ouro e as trouxeram a Aarão” (Êxodo 32:3). Este, então, junta o ouro todo e o atira ao fogo, esperando que de lá emergisse uma massa disforme, para assim dar mais tempo para que Moisés retornasse. Porém, os feiticeiros egípcios que se encontravam entre os Eirev Rav, com suas bruxarias fazem emergir do fogo um bezerro de ouro. E aquele bezerro de ouro os Eirev Rav entregam aos judeus: “É este o teu deus, Ó Israel, que te tirou da terra do Egito” (Êxodo 32:4).

Em sua última tentativa de evitar que os judeus adorassem o bezerro de ouro, Aarão edifica um altar e proclama a seu povo: “Amanhã será a festa ao Senhor” (Êxodo 32:5). Com suas palavras, deixa claro que a festividade seria para reverenciar o Senhor, D’us do Universo, e não o bezerro. Esperava, de fato, que quando seu irmão retornasse do Monte Sinai, juntos celebrariam a dádiva Divina, a entrega da Torá ao povo judeu. Mas Moisés não voltou na manhã do dia seguinte e o povo continuou a adorar o bezerro de ouro, cometendo atos imorais diante da estátua.

Enquanto isso, Moisés estava no Monte Sinai, sorvendo os ensinamentos da Torá e recebendo as Tábuas que continham os Dez Mandamentos. É quando, subitamente, recebe nova ordem Divina: “Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste sair do Egito, se corrompeu e depressa se desviou do caminho que lhes havia Eu ordenado. Fizeram para si um bezerro fundido e se prostram diante dele, em adoração, e a ele oferecem sacrifícios” (Êxodo 32:7-8).

D’us revela a Moisés Sua intenção de destruir o povo judeu por estar adorando o bezerro de ouro. Mas antes de aplicar seu castigo decisivo, o Onipotente diz a seu profeta: “Tenho observado este povo, e eis que é um povo obstinado. Agora, pois, deixa-Me; para que se acenda contra eles o Meu furor e Eu os aniquile; e de ti farei uma grande nação” (Êxodo 32: 9-10).

Um decreto trágico aparentemente fora selado. Mas, nas próprias palavras da severa sentença do Criador, jazia o segredo para reverter tão infausto destino. Moisés nem chegara a responder à acusação feita por D’us a Israel e já continuava a lhe dizer o Eterno, Todo-Poderoso: “...deixa-Me; para que se acenda contra eles o Meu furor e Eu os aniquile...” E o profeta compreendeu o que lhe queria dizer D’us: “Deixa-Me, senão não poderei aniquilá-los. Pois que o destino de Israel está em tuas mãos. Se rezares por eles, eles serão redimidos”.

E com isto voltamos à história verdadeira com que iniciamos. Moisés põe-se, de imediato, a orar a D’us: “O Eterno, o Eterno, tarda em irar-se …”. E eis que lhe responde o Santo, Bendito Seja, “Mas não foste tu mesmo que Me disseste que Minha misericórdia deveria ser reservada apenas ‘aos justos’?” Ao que responde Moisés: “E Tu não me afirmaste que seria aplicada ‘também aos iníquos’?” Faze, agora, portanto, com que Tua bondade de ser tardio em irar-se seja concedida também aos pecadores, fazendo com que se cumpram Tuas próprias palavras”.

Relata-nos a Torá que o profeta prevaleceu sobre o Criador: “... Então se arrependeu o Senhor e reconsiderou o mal que dissera havia de fazer a Seu povo” (Êxodo 32:14).

O confronto com o Criador

No dia 17 de Tamuz, Moisés desceu do Monte Sinai com as Duas Tábuas em suas mãos. Quando viu que o povo dançava e adorava o bezerro de ouro, soltando das mãos as Tábuas, lançou-as ao solo, quebrando-as em pedaços, no sopé da montanha. E, a seguir, pegando o bezerro, atirou-o ao fogo onde se queimou por completo. No dia seguinte, 18 de Tamuz, ordenou à tribo dos Levitas, os únicos a não participar do culto ao bezerro de ouro, que matassem os 3 mil homens que haviam incitado o povo ao mal.

No 19.o dia do mês de Tamuz, Moisés ascendeu ao Monte Sinai, mais uma vez, em busca de expiação para seu povo. “Vós cometestes grande pecado”, disse-lhes antes de subir, “agora porém, subirei ao Senhor e farei propiciação junto a Ele, tentando obter perdão pelo vosso pecado” (Êxodo 32:30).
A Torá, a seguir, narra o que talvez seja a mais dramática permuta entre um homem e seu Criador. “Te imploro!”, rogou Moisés. “Este povo cometeu grande pecado, fazendo para si uma divindade de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado! Ou senão, imploro-Te, risca-me do Livro que escreveste!” (Êxodo 32:31-32).

Os comentaristas revelam, com riqueza maior de detalhes, o diálogo que se travou entre Moisés e D’us: “Se perdoares Israel, quanto júbilo! Mas se não o fizeres, tira a minha vida e apaga da Torá qualquer menção à minha pessoa, pois não poderei ser líder se falhar em obter o perdão para meu povo” (Rashi). Segundo o Rabi Ovadia Sforno, grande erudito em Torá, Moisés disse a D’us: “Independentemente de Tu os perdoares ou não, retira os meus méritos pessoais de Teu livro e credita-os na conta do povo de Israel”.

Moisés, o homem mais humilde de todos os tempos, ousava enfrentar o Criador Infinito. Face à escolha, preferiu ser o pastor de Israel do que o profeta de D’s. O Rebe de Lubavitch, quando falava desse incidente, explicava: toda a existência de Moisés estava contida na Torá que ele trouxera para seu povo. A Torá era mais do que uma lição que ele iria transmitir adiante. Era o que ele representava. E ainda assim, quando chegou o momento de escolher entre a Torá e o seu povo, ele optou por seu povo. Pois que bem no íntimo de sua essência, no mais profundo de seu ser, residia a sua identidade e a sua unicidade com seu povo.

Moisés permaneceu no Monte Sinai, novamente, durante 40 dias, implorando por seu povo. Ele desceu ao acampamento dos judeus no 29dia do mês de Menachem Av. Foi então que recebeu uma ordem Divina, que valia a pena ser celebrada: “Lavra duas tá-buas em pedra, como as primeiras; e Eu escreverei nelas as mesmas palavras que estavam nas primeiras, que quebraste em pedaços. E prepara-te para amanhã, para que subas pela manhã ao Monte Sinai e ali te apresentes a Mim, no cume do monte” (Êxodo 34:1-2).

Como lhe fora ordenado, Moisés lavra duas estelas em pedra. No primeiro dia do mês hebraico de Elul, ele madruga e ascende ao Monte Sinai pela terceira vez. Após ter chegado ao topo da montanha, aparece-lhe o Eterno e ensina-lhe o texto de uma prece que, no futuro, serviria para sempre invocar Sua misericórdia. Esta oração, os Treze Atributos da Misericórdia, contém treze descrições sobre D’us, todas acerca de Sua compaixão e bondade infinitas. Com esta invocação ninguém jamais deixa de merecer a Graça Divina.
Moisés permaneceu no Sinai – em jejum ininterrupto – por mais 40 dias: “E ali esteve com o Eterno quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão nem bebeu água...”. (Êxodo 34:28). Durante esse período, D’us ensinou a Moisés toda a Torá, uma vez mais. E então, indicando, finalmente, Seu perdão total para o povo judeu, D’us ordena que Moisés escreva as palavras dos Dez Mandamentos sobre as tábuas que ele lavrara e trouxera ao Monte Sinai.
No 10.o dia do mês de Tishrei, Moisés retorna ao acampamento dos judeus levando consigo as novas Tábuas com os Dez Mandamentos. Desta vez, foi recebido por um povo em júbilo pelo perdão Divino que lhes fora outorgado.

Aquele dia se tornou o primeiro Yom Kipur, o primeiro Dia do Perdão. D’us decidiu que, a partir de então, o 10.o dia de Tishrei seria o dia no ano em que Ele se dedicaria aos rogos, remorsos e preces pelo perdão. Assim como perdoara o pecado cometido através do bezerro de ouro, no futuro, nesse mesmo dia, Ele também perdoaria as futuras transgressões que o povo judeu cometesse contra Seu Nome.

Como vimos, então, Yom Kipur – o Dia do Perdão – é celebrado no 10.o dia do mês judaico de Tishrei. É o dia mais sagrado de nosso calendário, uma data mencionada na Torá como o “Sábado dos Sábados”, Shabat Shabaton. A Torá nos ordena guardá-lo de acordo com todas as leis que estipula, “...porque naquele dia se fará expiação por vós, para purificar-vos; e sereis purificados de todos os vossos pecados perante o Eterno” (Levítico 16:30).

O Dia do Perdão

Os cabalistas revelam que uma centelha da alma de Moisés se encarna em cada um dos judeus. Moisés vive em todos nós. E, portanto, em certa medida, cada um de nós contém alguma de suas características e de seu poder.
No Yom Kipur, dia mais sagrado do calendário judaico, agimos como o fez

Moisés no Monte Sinai. E como Moisés, que rezou por todo o nosso povo, assim o fazemos nós. As orações da liturgia de Yom Kipur são todas pronunciadas no plural, pois não rezamos apenas por nós, mas por toda a congregação de Israel. E seguindo os ensinamentos de D’us a Moisés, invocamos os Treze Atributos de Misericórdia Daquele que é Rei Misericordioso.

Moisés jejuou 40 dias e 40 noites para obter o perdão para seu povo. Os sábios nos explicam que durante esse período, Moisés viveu como um anjo.

Em Yom Kipur, nós também jejuamos, abstendo-nos de comer e beber. Não realizamos nenhuma das atividades proibidas no Shabat, pois que Yom Kipur é o “Sábado dos Sábados”. Não usamos sapatos de couro, não nos banhamos nem tampouco usamos perfumes e cremes, e não temos relações conjugais.

Assim agindo, durante todo o Yom Kipur, deixamos para trás nossos afazeres mundanos, nossos desejos e nossas preocupações. Ao nos elevarmos espiritualmente, aproximamo-nos de D’us, estando desta forma mais aptos a obter o favor Divino sobre nós e sobre todos os nossos irmãos – o Povo Judeu, o Povo de Israel.

Nos Pirkei - comentários - de Rabi Eliezer (capít. 46), este sábio cita Satã, o anjo do pecado e aquele que iniciou a instigação que terminaria no incidente do bezerro de ouro, quando se coloca diante de D’us, em Yom Kipur: Satã percebeu que não havia pecado entre o povo, em Yom Kipur. Disse então a D’us: “Tens diante de Ti um povo único, como os anjos que Te auxiliam nos Céus. Como os anjos, que não comem nem bebem, assim o fazem os judeus, no Yom Kipur”. Este é o único dia do ano em que Satã não tem poder de acusação sobre o povo judeu. Assim sendo, é o dia em que podemos obter o perdão Divino sem enfrentar quaisquer impedimentos espirituais.

D’us decide o destino de cada uma das pessoas em Rosh Hashaná, mas Ele apenas confirma os Seus desígnios ao término do Yom Kipur. Ensinaram-nos que o arrependimento, a prece e a caridade podem reverter o destino infausto. “Agora, deixa-Me!”, D’us ordenou a Moisés. “Deixa-Me só, pois tu podes anular Meus decretos”. Devemos lembrar-nos que foi o Criador – e não Moisés – quem escreveu a Torá. E portanto, foi D’us, Ele Próprio, quem decidiu registrar esse incidente em Sua Torá – em que um ser humano prevaleceu sobre Seus decretos – para ensinar a todas as gerações futuras que o destino do povo judeu está assentado sobre os atos e orações de cada um de nós.

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Os treze atributos de misericórdia

Quando D’us escreveu a Sua Torá, revelou a Moisés e, subseqüentemente, a todas as gerações do povo judeu, o texto de uma ora-
ção que serviria para sempre invocar a Sua misericórdia. Esta prece, conhecida como os Treze Atributos da Misericórdia, somente pode ser recitada por uma congregação composta de um mínimo de dez homens. Algumas congregações a recitam diariamente, exceto no Shabat e nos Dias Santos. Outras, apenas em dias de jejum ou em momentos de crise. Mas todas a recitam no Yom Kipur. A prece é repetida várias vezes e constitui o tema central nos serviços religiosos deste dia sagrado.

Seguem-se os Treze Atributos e uma breve explicação sobre cada um:

O Eterno – este Nome denota o atributo Divino da Misericórdia e os milagres feitos por Ele para anular até mesmo as leis da natureza por Ele criado. Seu Nome aparece duas vezes nos atributos. Na primeira significa que D’us tem piedade dos pecados do homem, apesar de Ele saber que a pessoa cometerá atos indignos no futuro.

O Eterno – a segunda menção de Seu Nome denota que mesmo que alguém tenha pecado, D’us misericordiosamente aceita seu arrependimento.

El (D’us) – este Nome denota o infinito poder do perdão Divino. Nele está implícito um grau de misericórdia que ultrapassa o indicado pelo Nome de Seu primeiro e segundo atributos.

Rachum (Compassivo) – D’us alivia o castigo dos culpados e ajuda as pessoas a evitar situações penosas.

Ve-Chanun (e Gracioso) – D’us é gracioso mesmo com os que não o merecem.

Erech Apayim (Tardio em irar-se) – D’us é paciente com os justos e com os iníquos. Ao invés de logo punir os pecadores, Ele lhes dá tempo para se recuperarem e se arrependerem.

Ve-Rav Chessed (e Magnânimo em Sua Bondade) – D’us é bondoso mesmo com os que não têm o mérito de praticar o bem. E se o comportamento de alguém se equilibra entre a virtude e o pecado, D’us inclina a balança do julgamento para o lado do bem.

Ve-Emet (e Verdadeiro) – A verdade é o próprio Selo Divino. D’us jamais volta atrás em Suas palavras de recompensar os que o merecem.

Notzer Chessed Le-alafim (Preservador da Bondade para milhares de gerações) – D’us preserva as boas ações das pessoas em benefício de seus descendentes. É por isso que constantemente invocamos os méritos dos patriarcas do povo judeu: Abrahão, Itzhak e Jacob.

Avon (Iniqüidade) – Esta é uma das três categorias de pecado e se refere a um pecado intencional, perdoado por D’us se houver arrependimento sincero.

Va-Pesha (Pecado Rebelde) – Este é o tipo mais sério de pecado, cometido com a intenção de causar a Ira Divina. Mesmo uma transgressão tão séria é perdoada quando há arrependimento.
Ve-Hatê (e Erro) – Este é o pecado cometido pela apatia e pela insensibilidade, também perdoado por D’us, mediante o arrependimento.

Ve-Nakê (Aquele que purifica) – Quando alguém se arrepende, D’us purifica o seu pecado, fazendo desaparecer o efeito do mesmo.

Bibliografia:
The Chumash - The Stone Edition (Artscroll Mesorah)
Rashi - The Sapirstein Edition (Artscroll Mesorah)
The Midrash Says - The Book of Shemos, Rabbi Moshe Weissman
(Benei Yacov Publications)

 

PARA o MESSIÂNICO:

Tal como na Parashat de Yom Teruah (Bereshit/Génesis 22:1), que dá inicio registrando o nascimento de Isaac, a Parashat de Yom Kippur começa com a morte  dos filhos de Aarão. Este fato é importante por sí só porque representa como a sabedoria dos velhos contemplam estas duas festividades. A primera, uma festividade de alegria que representa o nascimento e novos começos, enquanto que a outra, uma festividade de tristeza representa a morte e um final. O fato é, sem dúvida, para nós que acreditamos no Mesías Yeshúa, que estas são duas festividades de Alegria. A razão radica, como tenho comentado no pasado, que uma representa  ocultar que os crentes se deixem arrastar a um lugar de proteção  dos ataques das tribulações que sucedem na terra e a outra representa o regreso de Yeshúa HaMashiaj para estabelecer Seu Reino Terrenal (Daniel 12:1-2). Que podería ser de mais alegria para aqueles que pertenecem a Yeshúa HaMashiaj? Digo “pertencem” porque não é suficiente para você conhecer a Yeshúa HaMashiach, Éle necesita conhecer a você. A única parte triste, portanto, é que há muitas pessoas a quem amamos e a grande maioría da população judea, não são reconhecidos por Yeshúa HaMashiaj. Serão deixados para trás, como ficarão atrás para o juízo, os residentes de ambas gerações de Noé e de Lot.

Interesante como da resultado  este tema, mas, o que realmente eu quero comentar para a Parashat de Yom Kippur é esta passagem das Escrituras que atraiu a minha atenção: Vayikra / Levíticos 16:21 E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgresões, segundo todos os seus pedados; e os porá sobre a cabeça do bode, e envi-lo-á ao deserto, pela mão dum homem designado para isso. 22 Assim aquele bode levará sobre sí todas as iniquidades deles à terra solitaria; e enviará  o bode ao deserto.

Ainda que as Escrituras não o mencionam, ensina-se que o animal sobre o qual Arão colocou suas mãos, denominado Azazel, también conhecido como “bode expiatorio” foi lançado por un barranco no deserto e morreu. Nos tempos do Beit HaMikdash (Templo) Azazel era sinónimo de HaSatan (Satanás) y aquí esta o ponto  onde quero chegar.

Encuentro muito interesante que HaShem instruia  Aarón a enviar a Azazel ao deserto porque era exatamente onde o Ruaj HaKodesh (espírito, o Santo) levou a Yeshúa a ser tentado por HaSatan.

Mattityahu / Mateus 4:1 Então foi conduzido Yeshúa pelo espírito, o Santo ao deserto, para ser tentado pelo HaSatan.

Por acaso é isto somente coincidencia ou existe algo significativo que podemos aprender disto? O fato é que existe algo significativo em isto do porque nós  somos tentados mais por Satanás quando estamos no deserto.

Existe muitos momentos na vida do crente que se passão no deserto. Sabe o que quero falar, que tivemos  todos aí, em um lugar vazío, desolado, de solidão, um lugar onde parece que D-us te abandonou. Se sente como se estivese no  deserto. E nestes momentos quando mais vulnerável estás para receber ataques de HaSatan é nestes tempos, quando estás no deserto, que ele ataca mais.

O deserto é um lugar muito seco; não existe agua, e não existe comida. É um lugar onde deves depender totalmente de HaShem para sobreviver e agora  nos falam que Azazel anda solto neste lugar.

Quando você e eu estamos en lugares de fortaleza, lugares como nossas congregações e entre otros crentes, não temos problemas em contra-atacar os embates de HaSatan, perem quando nos deixam sózinhos no deserto, nos tornamos muito vulneráveis. Sabem porqué? É porque esse é o lugar onde HaShem foi expatriado (Azazel). O deserto de nossas vidas é seu terreno de pasto! Podería ser ésta a razão pela qual o Shaul HaShaliaj (Pablo el Apóstol) nos fala:

Ivrim / Aos Hebreos 10:24 E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras: 25 Não deixando a nossa congregação, como é de costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quando vedes que se vai aproximando aquele dia.

 

MAIS:

Yom Kipur: Kol Nidrei

Na véspera de Yom Kipur, em todas as sinagogas ao redor do mundo, a Arca Sagrada é aberta e os rolos de Torá são retirados. Em seguida, o chazan e a congregação entoam o Kol Nidrei. Um prelúdio marcante que durante séculos transmite a gerações de judeus o espírito do Dia do Perdão.

 

Kol Nidrei, que em aramaico significa “todos os votos” ou “todas as promessas”, apesar de tocar o fundo da alma judaica, infundindo em cada um dos presentes temor e esperança, na realidade não é uma oração e o texto sequer menciona o tema arrependimento. É uma declaração coletiva que permite aos que estão presentes anular promessas, votos ou juramentos feitos a D’us e não cumpridos. No Yom Kipur, na hora do Kol Nidrei, somos lembrados que a palavra é sagrada e que promessas assumidas devem ser escrupulosamente respeitadas.

Para o judaísmo, votos e juramentos são compromissos de extrema importância e a Torá é explícita neste ponto. Um mandamento bíblico afirma que uma promessa proferida não deve ser quebrada. Esta proibição é tão grave que o Talmud diz que o mundo treme diante dela e, portanto, não podemos nos aproximar de D’us para implorar Seu perdão sem antes nos termos livrado do grave pecado de ter violado nossa palavra a Ele. O Talmud aconselha evitar juramentos ou votos.

Nossos sábios estavam cientes da fragilidade da natureza humana. Sabiam também que, em momentos difíceis, ao nos dirigirmos ao Todo-Poderoso, podem ser pronunciadas promessas precipitadas ou juramentos difíceis de cumprir. Por isto, anteviram uma forma de nos absolver de culpas derivadas de palavras proferidas impetuosamente. Apesar de colocar sérias limitações, o Talmud afirma que um tribunal composto por três pessoas (Bet Din) pode anular votos ou juramentos feitos por uma pessoa, se esta declarar perante eles que se arrependeu.

Por ter provocado mal-entendidos ao longo de séculos, é muito importante lembrar que, assim como o Yom Kipur só absolve as transgressões do homem em sua relação com D’us, o Kol Nidrei nos libera somente de votos ou juramentos pessoais feitos a D’us e só a Ele. Em hipótese alguma nos libera de promessas, juramentos ou votos que envolvam outras pessoas; estes só poderão ser anulados quando, na presença de todos os envolvidos, todos estiverem de acordo com a anulação.

A Cabalá tem mais uma interpretação: o Kol Nidrei é uma forma de pedir a D’us que anule todo os Seus próprios juramentos de afastar Sua presença de Seu povo. Em várias ocasiões o povo de Israel provocou a Ira Divina e D’us jurou punir-nos com o exílio. Mas na véspera de cada Yom Kipur, no Kol Nidrei, pedimos que Ele considere nulas todas as palavras que afastam ou escondem Sua Presença Divina de Israel.

As origens

Há várias teorias sobre as origens do texto do Kol Nidrei. Há historiadores que supõem ter sido composto nos séculos V ou VI, após o rei Ricardo da Espanha (586-601 da era comum) ter iniciado uma campanha que obrigou todos os judeus de seu reino a se tornarem cristãos. Acuados, muitos tiveram que renegar sua fé, mas, apesar das aparências, permaneciam judeus em segredo. Foi o início do cripto-judaísmo. Mas os marranos – como passaram a ser chamados estes judeus secretos – não queriam abandonar sua fé e tentavam manter secretamente as Leis de seus ancestrais.

Yom Kipur era uma data particularmente importante para eles e, mesmo arriscando suas vidas, reuniam-se em segredo. No entanto, antes de iniciar as orações, o líder da congregação era incumbido de se levantar e renunciar, em nome de todos os presentes, a juramentos e promessas formuladas sob coação. Declarava nulos todos os juramentos que haviam sido impostos e, só então, com o coração mais leve, iniciavam as orações pedindo perdão a D’us pelos pecados cometidos. Provavelmente, as inúmeras perseguições e as conversões forçadas que marcaram a história dos judeus na Europa fizeram com que o Kol Nidrei se enraizasse cada vez mais na liturgia do Dia do Perdão. Com a migração dos marranos para vários países da Europa é provável que o costume tenha sido incluso, em muitas comunidades, na liturgia de Yom Kipur. Vários Gaonim do período mencionam em seus escritos o fato de o texto ser recitado em inúmeros países, inclusive em Eretz Israel. No século IX já fazia parte do primeiro livro de orações completo, o Seder do Rav Amram Gaon.

Alguns sábios chegaram a se pronunciar contra a inclusão do Kol Nidrei em Yom Kipur, pois temiam que a possibilidade de anular juramentos de forma coletiva diminuísse aos olhos dos judeus a importância e gravidade dos juramentos. Até o final do século X, a maioria das comunidades européias já o havia incluído em sua liturgia de Yom Kipur. Somente na Babilônia, onde estavam as academias de Sura e Pumbedita, o texto não foi adotado. Provavelmente, como estas comunidades viviam em paz, o costume lhes parecia estranho.

O Kol Nidrei adquiriu um significado ainda maior quando, em 1391, reiniciaram-se na Espanha as perseguições aos judeus. Estas culminaram em 1492 com o Édito de Expulsão. As opções dadas aos judeus ibéricos era conversão ao cristianismo, exílio ou morte. Para os judeus que ficaram na Península Ibérica a única saída era esconder seu judaísmo do olho atento da Inquisição. Apesar do grave perigo, em Yom Kipur muitos destes marranos se reuniam secretamente para anular juramentos e pedir o perdão Divino por não terem ainda voltado à fé judaica, apesar de suas promessas.

Durante séculos o Kol Nidrei foi causa de interpretações enganosas que levaram a acusações malévolas contra os judeus. Estes eram acusados de usar o ritual para se desfazer de todo tipo de encargos e compromissos. Se os juramentos podiam ser anulados, di-ziam seus perseguidores, então não se podia confiar na palavra de um judeu.

Em 1240, Rabi Yechiel, de Paris, desafiou o bispo da cidade, na presença do rei da França e da rainha de Castilha, a um debate sobre o assunto. Venceu-o demonstrando publicamente que o Talmud afirmava que um judeu não pode quebrar uma promessa feita ao próximo. Mas isto não foi suficiente para impedir que o Kol Nidrei fosse usado nos séculos seguintes para acusar judeus de má fé. Em 1656, Cromwell discutiu o assunto do Kol Nidrei novamente com o Rabi Menasse Ben Israel. Este último havia encaminhado ao governante da Inglaterra uma petição através da qual os judeus pediam permissão para voltar para a Inglaterra, de onde haviam sido expulsos em 1290. Cromwell recusou a petição.

O ritual

O Kol Nidrei tem início com o chazan posicionando-se à frente da Arca Sagrada. Ele se coloca no papel de Shaliach Tzibur – mensageiro da congregação – para “defender” a causa de seus “clientes” perante D’us, nosso Juiz. Dois homens ou mais da congregação, cada um com um rolo de Torá em suas mãos, posicionam-se ao seu lado. É um tribunal simbólico onde todos agem de acordo com o “processo legal” para a anulação de votos estabelecidos por nossos sábios.

De maneira solene, envoltos em talit, os três representantes da congregação declaram:

“Pela autoridade que nos foi dada pela Corte Superior e pela autoridade que nos foi dada pela Corte Inferior, com a permissão de D’us – Abençoado seja Ele – e com a permissão desta sagrada congregação, consideramos lícito rezar com os transgressores”.

Após estas palavras o chazan entoa o Kol Nidrei. “Todos os votos, as proibições, os juramentos, as anátemas, as interdições, os empenhos e os compromissos que a nós mesmos impusermos, seja por voto solene, juramento, anátema ou auto-proibição, a partir deste Yom Kipur até o próximo Yom Kipur, que vem a nós em paz – todos eles são declarados sem valor e considerados completamente nulos, não ocorridos e inexistentes. Nossos votos não são votos, nossos compromissos não são compromissos e nossos juramentos não são juramentos.”

O texto revela a inquietação do ser humano ao se dar conta dos votos que não foram cumpridos, das obrigações quem sabe esquecidas, de valores e lealdades traídas. Mas a melodia parece afirmar o desejo de refazer seu caminho e reparar o mal feito.

O texto deve ser repetido três vezes, pois importantes orações são repetidas três vezes para dar ênfase às palavras. Segundo o Rabi Saadia Gaon, o Kol Nidrei deve ser repetido três vezes por causa da forma como deve ser pronunciado: primeiramente é entoado com a voz de um servo que se aproxima pela primeira vez do trono de seu soberano, a quem teme; na segunda vez, ele já reúne confiança e fala mais forte; na terceira, sua voz é mais forte, por já estar familiarizado com a presença do Rei.Machzor de Yom Kipur, Editora Sêfer

 

Apesar do texto do Kol Nidrei ser sempre o mesmo, tanto o ritual como sua antiga melodia variam de acordo com as tradições de cada comunidade. Nas comunidades asquenazitas o tom é grave e sério. Leon Tostoi, quando ouviu o Kol Nidrei pela primeira vez, numa sinagoga da Rússia, ficou profundamente tocado e a descreveu como a mais triste, mas também a mais elevada de todas as melodias que já ouvira. “Era uma melodia que ecoava a história do grande martírio de uma nação atingida pelo sofrimento”. O músico Beethoven usou um trecho melódico do Kol Nidrei nos oito compassos iniciais de um de seus últimos quartetos (Mi Menor opus 131), para dar uma atmosfera mais grave à sua obra.

As comunidades sírias costumam retirar todos os sefarim da Arca Sagrada levando-os ao redor da sinagoga. Rabi Yitzhak Luria, o Arizal, autor do Zohar, salientava a importância da tradição de retirar os sefarim para que todos as pessoas presentes pudessem ter a oportunidade de beijá-los. É considerado uma grande honra e privilégio segurar os rolos da Torá durante o Kol Nidrei. Privilégio ainda maior segurar o primeiro, chamado de Sefer Kol Nidrei.

Conclusão

O Kol Nidrei tem ensinado a gerações de judeus o poder da palavra. Nos primeiros instantes do Dia do Perdão, ao iniciar nossa “limpeza espiritual”, somos lembrados que a palavra é uma arma poderosa. Se bem usada, pode reconfortar, construir; mas usada de forma inadequada ou leviana pode destruir. Esta atinge sua maior força, seu maior poder quando o próprio homem se oferece como “garantia” de sua palavra.

Ao entoar o Kol Nidrei somos levados a perceber, mais uma vez, que a palavra de um homem é sagrada. E mais ainda, que ao respeitá-la estaremos respeitando tanto os outros em nossa volta como a nós mesmos.

Kol Nidrei nos ensina também o poder do arrependimento. Se nos lamentarmos e pedirmos perdão com sinceridade, D’us perdoará nossas falhas e nos livrará do peso opressivo de nossa culpa.

Bibliografia:

Yom Kipur - Its Significance, Laws and Prayers - Art Scholl Mesorah Series
Rabbi Nosson Schaman

 

 


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No entanto, se a dificuldade está nas doutrinas (de homens) que a sua igreja prega, siga então o último conselho bíblico: Saia dela Povo Meu! Apoc 18:4.

...E, se Eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também. João 14:3

Esperamos que este ministério seja uma bênção em sua vida. Nosso propósito é educar e advertir as pessoas, para que vejam que Jesus está às portas!!!

Que Deus o abençoe.

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